Os desafios que precisarão ser vencidos durante o distanciamento social pelo qual o mundo está passando vão deixar marcas profundas. A educação e os professores não saíram ilesas a elas
O Brasil possui 47,8 milhões de alunos da Educação Infantil até o Ensino Médio, de acordo com os dados do Censo Escolar 2019, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que estão sem aulas presenciais há mais de 60 dias. A suspensão das aulas foi uma das medidas encontradas pelos governos estaduais para frear a contaminação do novo coronavírus e evitar o sobrecarregamento do sistema de saúde.
Fato é que dois meses depois de entrarmos num cenário nunca vivenciado antes, muitas estão sendo as transformações sociais e a educação não sairá ilesa a essas mudanças.
“Os desafios são gigantes para a educação como um todo e para os professores em particular. O mundo está se transformando e não voltaremos “ao normal”, pois o normal será uma nova realidade, muito diferente do que estávamos vivendo até a pandemia de Covid-19”, analisa Regina Silva, Diretora Pedagógica da Tecnologia Educacional.
Se o mundo, provavelmente, não será mais o mesmo, a educação e os professores também não. Regina destaca os diversos aspectos que devem ser levados em consideração, como também, as inúmeras incertezas: “durante quanto tempo as escolas ficarão fechadas? Como será a regulamentação? Como garantir a qualidade e o cumprimento do currículo? Como engajar alunos e famílias nesse nosso modelo?”, pondera.
“Deixando de lado as incertezas sobre as quais não temos domínio, vamos focar especialmente no papel do professor, que precisa se reinventar para continuar cumprindo sua missão de mediar a aprendizagem dos estudantes”, reflete.
Sabemos que a interação física é a essência da profissão de professor. O olho no olho e o acolhimento estão intrínsecos ao ofício. E essa tem sido uma barreira a ser superada nesse período.
“O processo de ensino e aprendizagem se transforma neste contexto. A profissão de professor envolve muita relação interpessoal e acolhimento. Talvez aqui esteja a maior perda. Um dos principais desafios é adequar aulas, materiais e atividades para outro modelo que não o presencial”, completa.
Por isso, Regina afirma que as formas habituais de lecionar precisam ser revistas. “É preciso modificar o planejamento pedagógico e encontrar alternativas para envolver, motivar e propiciar o desenvolvimento dos estudantes, mesmo que a distância”, destaca.
A forma encontrada para garantir a continuidade do aprendizado dos alunos foi se apropriar das tecnologias, muitas estão sendo disponibilizadas neste momento de crise. “É uma avalanche de informações, o que torna muito difícil encontrar a melhor solução para atender a essa necessidade não planejada de ensinar além dos muros da escola”, avalia.
Apesar de boa parte dos professores estar acostumada a usá-las diariamente, a situação fica mais complicada quando se trata de conhecer e dominar novas ferramentas e metodologias para adaptar as aulas a um novo formato. Afinal, não basta replicar a aula presencial na tela de um computador, é preciso repensar toda a linguagem.
“Isso exige um tempo que não temos. Inclusive, muitas escolas no país definiram férias para que suas equipes se preparem melhor e desenvolvam conteúdos e dinâmicas adequados para as aulas a distância”, conta.
Outro grande desafio é a falta de infraestrutura necessária para aulas a distância nos lares, especialmente em se tratando de estudantes da escola pública.
“Essa questão, de homeschooling, não pode ficar à margem, pois temos que garantir uma educação não excludente. A falta de tempo e preparo das famílias para mediar a realização de atividades pedagógicas torna a situação do ensino ainda mais complexa”, alerta Regina.
Existe o fato, ainda, de que os desafios são diferentes para alunos das diferentes faixas etárias, já que é possível adaptar recursos para atender desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. “Porém criatividade, objetividade e simplicidade são os postos-chave para este momento, independentemente da idade dos estudantes”, explica.
Para Regina, as tecnologias digitais podem ajudar a tornar esse desafio menos estressante para todos os envolvidos nos processos de ensinar e aprender. Plataformas adaptativas, por exemplo, permitem ao estudante seguir o próprio caminho de aprendizagem de uma forma mais autônoma, seja recuperando dificuldades individuais ou avançando para conceitos mais complexos.
Ela explica que os dados coletados no decorrer da realização das atividades auxiliam o professor a acompanhar, mesmo que a distância, o desempenho de cada aluno e a intervir quando a mediação se faz necessária. “É apenas um exemplo de como os tão propalados Big Data e Inteligência Artificial podem ajudar o #FiqueEmCasa a ser mais produtivo e envolvente”, antecipa.
A educação sempre foi um tema constantemente estudado e muito debatido. Formas, formatos, jeitos, caminhos, plataformas, conteúdos. Qualidade, quantidade, tecnologias. Todos esses assuntos rendem infinitas reflexões e elas estão sendo feitas muito antes da Covid-19.
“A verdade é que a pandemia potencializou todos os debates de uma forma exponencial e também escancarou as dificuldades enfrentadas pela comunidade escolar: gestores, professores, pais e alunos”
Em meio a tudo isso, uma certeza se confirma de forma latente: há que se mudar a forma de lecionar, os alunos – cada vez mais – entendem que a escola já não detém exclusivamente o acesso à informação. Entretanto, para cada lacuna aberta nesse período, existe um universo de possibilidades.
Para além das tecnologias digitais, plataformas adaptativas, Big Data e Inteligência Artificial – que já engatilham a Educação 5.0 – o principal legado da crise é a percepção do professor.
“Depois dessa experiência, as aulas presenciais nunca mais serão as mesmas. A transformação causada nos profissionais da educação vai permitir um olhar mais estratégico, diferenciado e novo”, fala Regina.
O professor será capaz de enxergar, avaliar e aliar o interesse dos alunos aos recursos usados em sua prática pedagógica diária. Isso proporcionará mais dinâmicas para aulas e engajamento dos alunos.
“São eles que vão liderar o processo de aprendizagem e o professor mediará o caminho da sua formação”, finaliza.
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