No último dia 13 de outubro o governo do Estado de São Paulo decretou o retorno obrigatório às aulas presenciais. A tendência é que outros Estados repliquem a decisão. Já na rede particular a presença dos alunos todos os dias nas salas de aulas já é uma realidade há alguns meses, o que fez com que muitos professores e gestores percebessem algumas dificuldades dos alunos no retorno às aulas presenciais, sobretudo em áreas do conhecimento como Língua Portuguesa.
Mas, quais os reais impactos da pandemia na educação? Uma série de estudos e pesquisas vem tentando responder a essa pergunta no Brasil e no mundo. Para ajudar os gestores, reunimos aqui resultados de algumas pesquisas:
Proficiência em Língua Portuguesa dos alunos cai depois de aulas remotas
Recentemente o Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF), em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo realizou um estudo que mostra a diferença na proficiência dos alunos em Língua Portuguesa entre 2019 e 2021. O estudo aponta quanto, em média, os alunos precisam avançar para alcançar resultados de proficiência semelhantes aos obtidos por colegas que cursaram os mesmos anos letivos antes da pandemia.
Foram analisados indicadores de proficiência de alunos que iniciaram, em 2021, o 5º ano e o 9º ano do Ensino Fundamental e o 3º ano do Ensino Médio. Em seguida, os resultados foram comparados com os mesmos indicadores de estudantes que concluíram esses mesmos anos letivos em 2019. Desta forma, é possível constatar quanto os alunos precisariam progredir durante este ano letivo para alcançar a mesma aprendizagem obtida, antes da pandemia de Covid-19, por estudantes da mesma série.

A comparação demonstra que, em 2020, em média, esses estudantes praticamente não desenvolveram novas competências e habilidades uma vez que, segundo dados do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) de 2019, o estudante evolui, em média, no início do Ensino Fundamental, aproximadamente 15 pontos por ano na escala de proficiência em Língua Portuguesa.
Recuperação da aprendizagem pode levar até 3 anos
Com base neste comparativo entre 2019 e 2021, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo estimou o tempo médio para elevar a aprendizagem no mesmo patamar que no ano retrasado, sendo necessário:
- 3 anos para que os alunos da 5ª série recuperem a aprendizagem perdida em Língua Portuguesa;
- Mais de 1 ano para que os alunos da 9ª série recuperem a aprendizagem perdida em Língua Portuguesa;
- Mais de 2 anos para que os alunos do 3º ano do Ensino Médio recuperem a aprendizagem perdida em Língua Portuguesa.
No caso das provas de Língua Portuguesa na 5ª série, houve uma constante evolução até 2019, quando teve uma queda de 3 pontos no sistema de pontuação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Já em 2021, durante a pandemia, ocorreu uma nova queda, mais de 29 pontos. O resultado é o mesmo apresentado uma década atrás, em 2011.
Perda de aprendizagem se deve principalmente pela queda de engajamento dos alunos
No estudo “Perda de Aprendizagem”, dos professores Ricardo Paes de Barros e Laura Muller Machado, do Insper, em parceria com o Instituto Unibanco, podemos observar que que, em 2020, apenas 13% do ano letivo, em média, se deu com atividades presenciais. Os demais foram cumpridos remotamente.
A pesquisa concentra-se no desempenho de alunos do 3º do Ensino Médio, para quem são menores as chances de recuperar o aprendizado perdido ao longo da pandemia, uma vez que estão prestes a encerrar a educação básica.
Os dados obtidos por eles permitiram calcular que, ao estudar de forma remota, o estudante aprende efetivamente, em média, 38% do conteúdo de Língua Portuguesa em relação ao que ocorreria com aulas presenciais.
Isso deve-se ao engajamento dos alunos com o modelo a distância no Brasil. Em 2020, estudantes assistiram, em média, a cerca de 36% das 25 horas de aulas online por semana. Entre os possíveis motivos por trás desse baixo índice estão a falta de acesso à internet, de equipamentos de informática e de estímulo para acompanhá-las.
O que pode ser feito?
Em todas as pesquisas foram citadas a adoção do modelo híbrido, medida que já está sendo tomada pelas escolas. Além disso, outros pontos em comum foram:
- mais tempo de aula;
- reforço para os alunos;
- simplificação dos conteúdos ou aceleração da aprendizagem.
Também deve-se levar em conta o estímulo ao engajamento dos alunos, para uma geração que já nasceu hiper conectada, o uso da tecnologia triplicou nesse período. Isso significa que o retorno às aulas presenciais não pode ser como antes, com modelos de aulas tradicionais, somente expositivas. Neste contexto, os especialistas apontam que a tecnologia pode ser uma grande aliada para despertar o interesse dos alunos pela aprendizagem em Língua Portuguesa.
2021