A metodologia propõe que todos caminhem juntos buscando a coletividade ao mesmo tempo que permite ao aluno participar ativamente do seu processo de aprendizagem
Interação, colaboração, participação ativa do aluno. Esses são os pilares da educação colaborativa, uma metodologia de ensino que busca proporcionar que todos cresçam juntos contribuindo uns com os outros no processo de aprendizagem.
Para Luca Rischbieter, professor, pedagogo, escritor e defensor da metodologia, as atividades realizadas em grupo trazem grandes benefícios que não podem ser extraídos na aprendizagem individualizada, como o trabalho de comunidade e a melhora na comunicação.
Embora muito abordada nos últimos tempos, a educação colaborativa não é algo novo. “A realização de jornal escolar, por exemplo, narrando os passeios dos alunos, os próprios passeios ao ar livre, a troca de correspondência, trabalhos em grupo, são ideias defendidas e aplicadas por Freinet* desde o início do século XX”, destaca o especialista.

Outro momento importante para a defesa da educação colaborativa é o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932. “A ideia que as salas de aulas fossem vistas como pequenas comunidades que aprendiam com o diálogo entre si e também entre outras comunidades (outras turmas), já aparecia no documento que teve como signatários Cecília Meireles e Anísio Teixeira. A proposta já enxergava a sala de aula como unidade colaborativa, um pequeno coletivo social, um centro de consumo e produção de cultura”, conta Luca. Por isso, ele acredita que o trabalho colaborativo entre os estudantes envolvendo a solução de problemas permite que eles expandam essa habilidade.
Os benefícios das atividades colaborativas são defendidos por diversos autores que apontam ganhos significativos em socialização – incluindo aqui aprendizagem nos aspectos comunicacionais e de convivência -, controle dos impulsos agressivos, adaptação às normas estabelecidas – destacando a aprendizagem relativa ao desempenho de papéis sociais e a superação do egocentrismo.
Além da aquisição de aptidões e habilidades – incluindo melhoras no rendimento escolar e o aumento do nível de aspiração escolar.
Mesmo que muitos anos depois, o debate em torno da educação colaborativa ganha força e parece que abertura nos sistemas educacionais.
3 benefícios da educação colaborativa
- Trabalho em equipe: essencial não apenas na escola, mas também no mercado de trabalho e em diversos ambientes que permeiam a vida do aluno agora e no futuro, o trabalho colaborativo permite o desenvolvimento dessa habilidade que pratica a escuta, a iniciativa, o cumprimento de etapas, o senso do coletivo, o respeito.
“Aqui se faz com o outro e para o outro, trazendo um norte e uma função para a atividade pedagógica”.
- Aprendizagem do diálogo: ao ser estimulado a colocar a sua opinião e a interagir com os colegas, a comunicação é favorecida despertando o senso crítico e enriquecendo o pensamento analístico e a construção de argumentos.
“Se aprende a falar, mas também a ouvir”.
- Autonomia: ao trabalhar em conjunto e aprendendo a se posicionar, o aluno ganha autonomia nos pensamentos e ações para atuar de forma mais proativa, não apenas na construção do seu próprio conhecimento como em outras áreas da sua vida.
“Entendendo o que se tem mais afinidade, o aluno consegue customizar seu aprendizado, ganhando mais autonomia”.
Trabalho colaborativo entre professores
Luca defende que esse é o grande segredo da educação colaborativa: a interdisciplinaridade, mas reconhece que é muito difícil de acontecer. “É raro porque é preciso quebrar a estrutura do sistema educacional atual que se volta para os livros pedagógicos como base e o ‘dar aula’ como fim”, completa.
“A escola tradicional não oportuniza às crianças momentos que elas possam exercitar suas habilidades comunicativas. Geralmente, os alunos ficam restritos a responder perguntas feitas pelos professores e a produzir conteúdos para que apenas os professores avaliem”.
Entretanto o especialista acredita que é possível começar esse movimento, mesmo que horizontalmente. “Pudemos experimentar projetos com professores de uma mesma disciplina realizando essas trocas ou a junção de dois professores de disciplinas diferentes, o próximo passo é trabalhar a estrutura da escola”, explica.

Para isso, é preciso que as instituições de ensino repensem seu modelo, abrindo espaço para esse velho novo modelo de aprendizagem.
“Algumas iniciativas no exterior apresentam as atividades ao ar livre como forma, inclusive, para o desconfinamento atual que estamos passando. Podemos aproveitar essas iniciativas legais, como hortas, por exemplo, e iniciar esse movimento colaborativo vertical interdisciplinar”, incentiva Luca.
Educação colaborativa e novas tecnologias
Dando uma repaginada no conceito de educação colaborativa é possível explorar e incluir as novas ferramentas nesse processo. Um bom exemplo são as atividades que permitam que os alunos descubram formas de aprender juntos e apoiados nas ferramentas tecnológicas, aproximando-os da realidade que vivem.
“As Mesas Educacionais têm justamente essa função. Mais que apoiar o processo de alfabetização na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, elas permitem que os alunos trabalhem apoiados no material concreto – fundamental para essa idade -, mas também a interação e colaboração, potencializando todo esse processo”, destaca Melissa Rackel Rosa Born, Coordenadora Pedagógica da Tecnologia Educacional.
A tecnologia que a especialista fala são as Mesas Educacionais formadas por hardware, software, materiais concretos e realidade aumentada. A Mesa permite o trabalho conjunto de até seis crianças favorecendo e incentivando a socialização e o desenvolvimento de atividades em grupo.
“Podemos perceber que o conceito historicamente discutido na educação, ganha novas formas e pode se apoiar na tecnologia, para se aproximar ainda mais da realidade do aluno”, completa Melissa.
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* Célestin Freinet (1896-1966) – pedagogo francês que defendia a aprendizagem por meio da experiência do aluno.